sexta-feira

o tempo inteiro

Não estou entristecida, amiga... só dói um pouquinho, às vezes, mas passa...

Como eu te disse, há tantas coisas tristes pelo mundo a fora... e as vemos todos os dias...
Por isso "eu não consigo ser alegre o tempo inteiro"...
E me parece até que isso é bom, porque acho muito estranho que as pessoas não se comovam, não sintam indignação nemm por um segundo, sabe???
E sei que dá pra ser diferente, dá pra mudar isso tudo, começando por mim, aqui dentro...

O que é que dói afinal?

Após a despedida... súbita vontade de chorar...
Algo, providencialmente, conteve as lágrimas que calorosamente encheram os olhos...
Não é tristeza (acredito)... embora também não fosse um momento muito feliz...
Mas não me atrevo a dizer o que seja, no entanto...
Sei que há o despertar de algo profundo, que vai além da carne, e além da fantasia momentânea acerca do que se vê... parece o lamento de algo perdido...
Mas esse algo tantas vezes mencionado...( que talvez eu, materialista que sou, não saiba definir em que plano esteja) dói...
Lembrei do querido Rubem Alves, tentando entender o que é que doía... e parece que me confortou... encerro citando as suas lindas palavras...
ele disse que
      " 'Alma' é o nome do lugar onde se encontram esses pedaços perdidos de nós mesmos. São partes do nosso corpo como as pernas, os braços, o coração. Circulam em nosso sangue, estão misturadas com os nossos músculos. Quando elas aparecem o corpo se comove, ri, chora...
      Para que servem elas? Para nada. Não são ferramentas. Não podem ser usadas. São inúteis. Elas aparecem por causa da saudade.
      A alma é movida à saudade. A alma não tem o menor interesse no futuro.
     A saudade é uma coisa que fica andando pelo tempo passado à procura dos pedaços de nós mesmos que se perderam."

Ironia...

Palavra presente, adequada, recorrente!
A vivencio de maneiras e em esferas diversas...
Me impressiono, me encanto, me revolto, me divirto entretanto...
Tão presente e tão distante...
Tão bonito e tão descartável...
Tão atraente e tão frustrante...
Tão promissor, e tão temporário...

Mistura-se com a contradição, marca dessa sociedade...
Mas traz um especial realce na aparência dos significados...(inclusive isso aqui é irônico)

"Sempre é dia de ironia no meu coração" e a frase da música do Belchior que caracteriza diversos dos meus sentimentos ultimamente...

terça-feira

descrevendo as cenas que "são" daquela forma

Parece que dá para afirmar isso sobre as cenas de amor...
que elas não "foram" (no tempo passado) mesmo, pois cada vez que recordamos, elas "são"...no tempo  presente!!!
Observando aquela cena que se passava entre as duas pessoas, dava pra escutar o que conversavam, embora não se pudesse ver o que se passava internamente com cada um.
Quem já viveu um intenso romance, pode imaginar...
Imagino que seja dolorido relembrar, e impossível reviver...também levando em conta que deviam estar sentindo certas emoções a flor da pele...

E  riam, buscando naturalidade:
- Vou ficar aqui contigo porque não conheço mais ninguém e além disso, eu vim só...
- beleza, fica aí com a gente, estamos numa galera!
- Tu estás bebendo? Poxa, quem diria... nunca imaginei que veria isso...
- olha, talvez não tenha reparado, mas o fato não é inédito, com a diferença que tu sempre o fez em proporções tamanhas que talvez não conseguisse observar o que se passava com ou outros...
(...)
-Sabe... eu sinto muitas saudades tuas... de ficar contigo, acordar juntos, tomar café, conversar...
- ah, sim... eu também, de vez em quando...
-E isso é uma droga, sabe? Isso é uma merda esse sentimento... porque acabou, já era!!!
- olha, não sei se acabou mesmo... tenho dúvidas, porque sempre nos vemos em situações como esta...
-Porque será que eu ainda sonho contigo?
- ah é? penso que seja normal né...
- Nossa, sinto muitas saudades!
-bom! eu estou aqui... aproveita a minha presença e mata a saudade...
(abraço não muito natural, seguido de um beijo aparentemente inesperado, mas não rejeitado... e então vem o breve choro, como revelação de nostalgia)
- Nooooossa!
-é bom né? garanto que nem tu lembrava...
-Toma alguma coisa comigo?
-sim, pode ser...

E a partir daí, que aparentemente foi o auge da coisa, foi difícil observar o que aconteceu...afinal a casa estava cheia e as pessoas um tanto alteradas iam e vinham alucinadamente, ocultando movimentos e expressões... apenas constatava-se que sumiu a forjada naturalidade inicial, embora frases como "tu é o amor da minha vida" tenham sido constantes até a desocupação do local.

Não compreendo porque essas coisas soam tortura, sofrimento...
reencontros deveriam ser algo a se comemorar...afinal, nos afastamos das pessoas por razões diversas... mas todas elas são importantes na nossa trajetória...e por si só, reencontrá-las deveria ter a celebração como pressuposto...

É uma cena triste... e essa descrição soa intromissão, mas acontece que...
é impossível ser indiferente... e portanto cá estou eu descrevendo...

e sabe o que me ocorreu?
a música "Pedaço de Mim", do Chico...

"Oh, pedaço de mim
Oh, metade afastada de mim
Leva o teu olhar
Que a saudade é o pior tormento
É pior do que o esquecimento
É pior do que se entrevar(...)"

paranoia cotidiana...

- Tenho que te contar uma coisa!!!
- hummm, boa ou ruim?
- depende, mas te conto amanhã...

Esse foi o mini diálogo que gerou tamanho suspense...
E eis que a imaginação muito fértil criou um monstrengo, e permaneceu alimentando a criatura até que a tal coisa fosse revelada.

E nesse "até que" despenderam-se quase 24 horas para acessar uma informação...
Poxa vida... assumo o empenho no exercício diário em combater a curiosidade extrema...e até considero exitosa essa atividade... tem resultados...
Então, como é que pode ter gerado tamanha angústia, aflição e até um certo medo considerando naquele momento a pior hipótese...
Não havia de ser nada mesmo, e inclusive havia sido alertada que não devesse passar de alguma fofoquinha!!! Mas a questão é que quando falou, não deixou pistas acerca da coisa a ser contada...
No entanto, em determinados momentos de ansiedade a paranoia potencializa de tal forma que nos tira o centro... poderia-se fazer qualquer coisa absurda nesse meio tempo, pois a curiosidade era imensa... e toma tempo mesmo, como se não houvesse mais um zilhão de coisas a serem pensadas e executadas...
Menos mal...
deu tempo...
...não só de pensar no que poderia ser, mas também de refletir sobre alguns pormenores que envolviam aquelas hipóteses acerca do que poderia ser a coisa a ser contada!!!